A tirzepatida (nome comercial Mounjaro) foi aprovada nos Estados Unidos em maio de 2022 e promete revolucionar o tratamento da obesidade e diabetes tipo 2.
O medicamento inovador atua de forma diferente dos tratamentos convencionais, trabalhando com dois hormônios naturais do corpo humano para promover perda de peso significativa e controle glicêmico.
O fármaco representa uma mudança de paradigma na medicina, segundo especialistas. Diferente dos antigos inibidores de apetite que atuavam apenas no sistema nervoso central, a tirzepatida trabalha de forma mais natural e segura no organismo.
O Que É Tirzepatida
A tirzepatida é um medicamento injetável desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly. Trata-se de um agonista duplo dos receptores GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1).
Na prática, isso significa que o medicamento imita a ação de dois hormônios naturalmente produzidos pelo intestino delgado após as refeições. Esses hormônios desempenham papel fundamental no controle da glicose sanguínea e na regulação do apetite.
Aprovação e Indicações
O medicamento foi aprovado pela FDA (Food and Drug Administration) dos Estados Unidos especificamente para tratamento de diabetes tipo 2 em adultos. Posteriormente, estudos demonstraram sua eficácia também no tratamento da obesidade, levando a novas pesquisas e indicações.
A tirzepatida está sendo avaliada em diversos países, incluindo o Brasil, mas ainda não possui aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercialização no território nacional.
Como Funciona a Tirzepatida no Organismo

Para entender o mecanismo de ação da tirzepatida, é preciso conhecer os hormônios que ela imita: GIP e GLP-1.
Papel do GLP-1
O GLP-1 é um hormônio secretado pelo intestino delgado quando nos alimentamos. Suas principais funções incluem estimular a produção de insulina quando a glicose está elevada, retardar o esvaziamento gástrico e promover sensação de saciedade.
Em pessoas com diabetes tipo 2, há redução na secreção de GLP-1 após as refeições. A tirzepatida compensa essa deficiência ao fornecer uma versão sintética mais potente e duradoura do hormônio.
Papel do GIP
O GIP também é produzido no intestino, mais especificamente no jejuno. Isoladamente, esse hormônio facilita o acúmulo de gordura no organismo, mas possui efeito importante na diminuição do apetite cerebral.
A descoberta revolucionária foi que, quando combinado com GLP-1, o GIP perde seu efeito de acúmulo de gordura e potencializa os benefícios do controle glicêmico e da perda de peso.
Mecanismo de Ação Completo
A tirzepatida age no organismo através de múltiplos mecanismos integrados:
Aumento da secreção de insulina: O medicamento estimula as células beta do pâncreas a liberarem insulina de forma dependente da glicose, ou seja, apenas quando necessário.
Redução do glucagon: Diminui a liberação inadequada de glucagon após as refeições, hormônio que aumenta a glicose sanguínea.
Retardo do esvaziamento gástrico: Faz com que o estômago esvazie mais lentamente, prolongando a saciedade e reduzindo picos glicêmicos.
Diminuição do apetite: Atua em receptores cerebrais relacionados à fome e saciedade, reduzindo a vontade de comer.
Diferencial da Tirzepatida
O grande diferencial da tirzepatida em relação a outros medicamentos é sua ação dupla nos receptores GIP e GLP-1. Medicamentos anteriores, como semaglutida e liraglutida, atuam apenas nos receptores GLP-1.
Ação Sinérgica dos Hormônios
Quando GIP e GLP-1 atuam juntos, um potencializa o efeito do outro. Essa ação sinérgica resulta em maior perda de peso e melhor controle glicêmico em comparação com medicamentos que ativam apenas um dos receptores.
Estudos demonstram que a combinação dos dois mecanismos replica de forma mais fiel a resposta natural do organismo às refeições, porém de maneira amplificada e controlada.
Forma de Administração
A tirzepatida é administrada por via subcutânea, através de injeção semanal. O medicamento vem em caneta aplicadora pré-preenchida, similar às utilizadas para insulina.
Doses Disponíveis
O medicamento está disponível em três doses: 5 mg, 10 mg e 15 mg. O tratamento geralmente começa com a menor dose, aumentando gradualmente para otimizar a tolerância e minimizar efeitos colaterais.
A escalada progressiva de doses é fundamental para que o organismo se adapte ao medicamento, reduzindo sintomas gastrointestinais como náuseas e vômitos.
Meia-Vida e Conveniência
A tirzepatida possui meia-vida de aproximadamente 5 dias, o que permite a aplicação semanal. Essa característica traz maior comodidade em comparação com medicamentos que exigem aplicações diárias.
Para Quem a Tirzepatida É Indicada

O medicamento foi inicialmente aprovado para adultos com diabetes tipo 2 que não conseguem controlar adequadamente a glicemia apenas com dieta e exercícios.
Critérios de Elegibilidade
Podem se beneficiar da tirzepatida pacientes que apresentam índice de massa corporal (IMC) elevado e ao menos uma comorbidade relacionada ao excesso de peso, como hipertensão, dislipidemia ou apneia do sono.
O medicamento demonstrou eficácia inclusive em pessoas com diabetes de longa evolução e alto risco cardiovascular, populações historicamente difíceis de tratar.
Tirzepatida Representa Nova Era no Tratamento
Segundo o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, professor da USP, “é uma mudança de paradigma no tratamento da obesidade e da diabetes”. O medicamento inaugura uma nova abordagem terapêutica baseada na modulação de peptídeos intestinais.
Evolução do Tratamento Medicamentoso
Até poucos anos atrás, os tratamentos para obesidade baseavam-se em medicamentos anorexígenos, que atuavam no sistema nervoso central com diversos efeitos colaterais potencialmente graves.
A nova geração de medicamentos, incluindo a tirzepatida, trabalha de forma mais fisiológica, respeitando os mecanismos naturais de regulação do organismo.
Importância do Acompanhamento Médico
É fundamental ressaltar que a tirzepatida não é solução isolada para obesidade ou diabetes. O medicamento deve fazer parte de tratamento abrangente que inclui mudanças no estilo de vida.
Necessidade de Mudanças de Hábitos
Alimentação equilibrada e prática regular de exercícios físicos continuam sendo pilares fundamentais do tratamento. O medicamento potencializa os resultados dessas medidas, mas não as substitui.
O acompanhamento médico regular é essencial para ajuste de doses, monitoramento de efeitos colaterais e avaliação da resposta terapêutica.
Perspectivas Futuras
A tirzepatida abre caminho para desenvolvimento de novos medicamentos coagonistas, que atuam em múltiplos receptores hormonais simultaneamente. Essa abordagem promete tratamentos cada vez mais eficazes e seguros.
Diversos outros compostos similares estão em fase de pesquisa, alguns combinando até três hormônios diferentes em uma única molécula.
